26 de março de 2012
Estamos em um momento histórico da música e da indústria fonográfica, pois tudo está sendo reformulado, os conceitos e o formato chegaram onde nem os mais visionários previam.
No Brasil sempre tivemos grandes artistas vanguardistas e talentosos em suas criações, mas comercialmente, estruturalmente e principalmente culturalmente sempre fomos atrasados e sofremos com isso até hoje. Exemplo disso é o Itunes que hoje é o maior vendedor de música do planeta e sofre muitas dificuldades de se estabilizar por aqui.
Mas nada disso existiria, nem pra fazer comparação se por aqui não tivesse desembarcado o Eslovaquo Fred Figner.
OS GRAMOFONES
Frederico Figner nasceu em dezembro de 1866 em Milewko, na então Tcheco-Eslováquia.
Muito jovem migrou para os EUA, chegando ao país no momento em que Thomas Edison estava lançando um aparelho que registrava e reproduzia sons por intermédio de cilindros giratórios Fred ficou fascinado pela
novidade, adquiriu um desses equipamentos e vários rolos de gravação.
Embarcou com sua preciosa carga em um navio rumo a Belém do Pará, onde chegou em 1891 sem conhecer uma única palavra do Português.
Na cidade começou a exibir a novidade para o público, que pagava para registrar e escutar a própria voz. O sucesso foi imediato e de Belém, Fred se dirigiu para Manaus, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife e Salvador
antes de chegar ao Rio de Janeiro.
Na Cidade Maravilhosa Fred abriu a 1ª loja, a Casa Edison na Rua Uruguaiana, lá importava e comercializava esses primeiros fonógrafos.
CASA EDISON
Na mesma época o cientista Emile Berliner tinha acabado de lançar nos Estados Unidos um equipamento de gravação que utilizava discos revestidos com cera, com qualidade sonora superior ao do aparelho de Thomas Edison.
Fred Figner percebeu de imediato o potencial da nova invenção e transferiu seu estabelecimento de um sobrado da Rua Uruguaiana para uma loja térrea na tradicional Rua do Ouvidor, onde abriu o primeiro estúdio de gravação e varejo de discos do Brasil, em 1900.
PRIMEIRO DISCO
Os discos fabricados por Fred nessa fase inicial utilizavam cera de carnaúba, eram gravados em apenas uma das faces e tocados em vitrolas movidas a manivela.
Apesar das limitações técnicas, essa iniciativa representou uma verdadeira revolução para a música popular brasileira, pois até então os artistas só podiam se apresentar ao vivo ou comercializar suas criações por intermédio de partituras.
O 1º disco brasileiro foi gravado na Casa Edison pelo cantor Manuel Pedro dos Santos, o Bahiano, em 1902. Era o lundu “Isto é Bom”, de autoria do seu conterrâneo Xisto da Bahia. Bahiano era natural de Santo Amaro da Purificação e além de ser o 1º artista a gravar um disco no Brasil foi o 1º também a gravar um samba, de nome Pelo Telefone em 1916. (mas essa história fica pra outro texto do King Blog).
Bahiano
A partir daí muitos artistas começaram a gravar suas composições em discos que eram distribuídos pela Casa Edison do Rio e pela filial que Fred havia aberto em São Paulo. A procura pelos discos era tanta que em 1913 Fred decidiu instalar a 1ª indústria fonográfica de grande porte na Av. 28 de Setembro, Vila Isabel, dando origem ao consagrado selo Odeon.
SEU LEGADO
Fred Figner era um homem à frente do seu tempo e para coroar o sucesso nos negócios decidiu erguer uma residência que espelhasse seu perfil empreendedor. Conhecida como Mansão Figner no bairro do Flamengo (Rio), abriga o Centro Cultural Arte-Sesc e um restaurante do Senac.
Fred utilizou-a como hospital, em 1918, durante a pandemia conhecida como Gripe Espanhola, ele próprio foi pego pela enfermidade, com isso transformou seu palacete em uma improvisada enfermaria.
Outro feito de Fred que lhe rende o título de o mais Brasileiro dos Estrangeiros, foi que sua generosidade e envolvimento com os artistas o levou a doar um terreno em Jacarepaguá para que fosse construído o RECANTO DOS ARTISTAS, instituição que exemplarmente acolhe artistas que estão sem condições financeiras ou familiar pra sobreviver.
www.casadosartistas.org.br
E por fim o homem que merece ganhar um filme contanto sua história e genialidade associada ao amor que teve ao meio artístico e ao próximo, faleceu em 19 de janeiro de 1947 aos 81 anos de idade, deixando em seu testamento parte expressiva de seus bens as obras sociais de Chico Xavier.
Está aí uma aula emocionante de vida pros profissionais não só da música, mas de todas as áreas da vida.
Dennys Motta – Abril de 2012
OBRIGADO GOOGLE
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Obrigado mesmo ao google por eu poder encontrar aqui um pouco de historia da música do meu país.
Amo a música brasileira, sua história e de seus criadores. Sou goiano e filho de nordestino, não sou músico porque escolhi outros caminhos de vida que não era a música, mas, nem por isso deixei de
ter uma relação muito próximo com esta fábula de paixão.
Talvez, na próxima passagem por esta terra.
Um beijo no coração de todos.
Cezar,
Senador Canedo – Goiás – Brasil.
Comentário por Cezar Regis — 21 de junho de 2012 @ 22:41
Muito bom o artigo! Estou pesquisando a história do estúdio de gravação. Será que alguém poderia me ajudar?
Comentário por Rafael Halabey — 3 de setembro de 2012 @ 21:13